Rosto de uma realidade

Longe dos centros urbanos de um país plantado à beira-mar há uma realidade que teima ser esquecida; há uma realidade feita de pessoas com mapas de vida no rosto e nas mãos; e livros de história no olhar e no coração. “Boa tarde” e um sorriso são as chaves para abrir a porta de uns bons minutos de aprendizagem e partilha. Este é o bonito rosto de uma realidade que teimo não esquecer…

País encantado

Por norma descuramos locais idílicos nas imediações da área onde vivemos (ou nascemos). Alegamos a repetida “desculpa”: ah e tal, é aqui ao lado… um dia destes vou até lá! Não se trata de falta de interesse, mas sim aquele sentimento absoluto que um dia vou mesmo até lá. A verdade é que este comportamento fez com que só recentemente entrasse  por uma das cinco portas do Parque Nacional da Peneda-Gerês  – Porta do Mezio – e, após escassos minutos, chegasse  ao Soajo, uma das mais típicas aldeias portuguesas, pertencente ao concelho de Arcos de Valdevez, no Alto Minho. Esta aldeia situa-se numa das vertentes da Serra da Peneda, inserida no único parque nacional do país. Nos ditos escassos minutos, que ainda perduram, a paisagem toma conta de mim. Entre vales e montes, sobranceiramente avista-se o rio Lima.
A aldeia do Soajo tem como principal atração o conjunto de espigueiros de tipo galaico-minhoto, erigidos sobre uma laje granítica, usada pelo povo como eira comunitária, perfazendo um total de vinte e quatro, sendo o mais antigo de 1782. As cruzes no topo de cada um invocam a proteção divina do que lá é guardado. Parte destes espigueiros são ainda hoje utilizados pelas gentes da terra.
Desde 1983 que o conjunto de espigueiros do Soajo está classificado como Imóvel de Interesse Público pelo IGESPAR (Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico).
A vida estruturada em torno do princípio comunitário  sempre foi um dado muito importante nesta aldeia.  Nos dias que correm, a feira, que se realiza todos os primeiros domingos do mês, ainda é motivo de convívio para as gentes da terra.

Atualmente comemora-se o dia de tudo e mais alguma coisa. Não sou particularmente adepta destas comemorações, no entanto, parece-me relevante salientar que a 18 de abril de 1982, e aprovado pela Unesco no ano seguinte, foi criado o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, com o objetivo de “sensibilizar os cidadãos para a diversidade e vulnerabilidade do património, bem como para a necessidade da sua proteção e valorização. Celebrando o património nacional, comemora também a solidariedade internacional em torno do conhecimento, da salvaguarda e da valorização do património em todo o mundo”.

Parece-me que o melhor é deixar de lado a frase “um dia destes…” e partir à descoberta, quer seja ao lado de casa, quer seja um pouco mais distante. O importante: ir.

Sejam bem-vindos ao Soajo!  E já agora, ‘biba’ o Minho! ‘Biba’ este país encantado, de nome Portugal!

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