Pico, a Montanha Mágica

“Quanto mais subo no dorso da montanha, mais pequeno e humilde se sente o meu olhar desta obra criada não sei por quem, (…).

Todas as montanhas são feitas de mudança. A do Pico porque está toda à mão, conjuga sobre si a mutabilidade da paisagem com a longa metaformose da sua própria corpulência. A norte, sobe através de uma sucessão de cotas e linhas de água, parecendo ilusoriamente fácil de escalar; o cone cimeiro, o «piquinho» (que se assemelha, visto do avião, a uma tenda de índio sobre a infinda pradaria das nuvens brancas e rosadas) depressa desaparece da vista, inclinado à vertente oposta; a sul, a montanha torna-se mais bojuda, com a bossa lombar a fazer ressalto para fora da pirâmide. Seja como for, a sul ou a norte, a montanha é o silêncio, o sagrado; um silêncio divinizado e vertical que levaria para muito longe o grito do homem perdido no universo. Com ele, o homem atravessaria o mar do Canal, as montanhas das ilhas, os rios de todos os países do mundo, até encontrar a sua universalidade. Compreendo agora, finalmente, por que razão ascetas, eremitas e anacoretas elegeram a santidade e a perfeição das alturas.”

Açores, O Segredo das Ilhas | João de Melo

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«Com mais umas duas singraduras eis-me no Pico, ilha sagrada. Os seus esporões de lava parecem dar assento e estrutura ao arquipélago inteiro.»

Corsário das Ilhas | Vitorino Nemésio